domingo, setembro 25, 2005

O amor incomoda

Li este artigo da autoria da Laurinda Alves, na revista XIS, há uns tempos e por concordar inteiramente com ele, gostava de o partilhar....

"Com maior ou menor frequência, acontece-nos a todos tropeçar em alguma coisa ou alguém que nos obriga a parar e pensar. Os acontecimentos à nossa volta, as circunstâncias específicas de cada um, a vida vivida (e quase nunca sonhada) e aquilo que não entendemos levam-nos a fazer perguntas a nós próprios. A tentar perceber, a encontrar um sentido, a avaliar e medir.
Ir ao fundo de si mesmo nunca é um caminho fácil nem linear e, por isso, instintivamente evitamos algumas direcções e preferimos certos atalhos. Parecem-nos mais seguros e, no imediato, até abreviam o percurso, mas intimamente sabemos que a longo curso muitos desses atalhos só multiplicam os trabalhos.

Temos tantas coisas mal arrumadas dentro de nós que a tentação de evitar caminhos é banal e universal. Ou seja, todos sabemos do que se trata.
Acontece que nem sempre podemos “ir à volta”, assobiar para o ar ou fingir que não vemos o que estamos a ver e não ouvimos o que estamos a ouvir. Falo, em especial, da voz interior que nos habita e jamais poderemos calar. Falo de sentimentos, portanto.

Alguém disse um dia que “deixar–se amar é aquilo a que todos resistimos mais ao longo da nossa vida” e, de facto, deixarmo-nos amar é de certa forma incómodo. Senão vejamos.
Aceitar amar e ser amado envolve riscos à partida: podemos sofrer com esse amor; podemos achar que não estamos à altura de responder aos seus desafios; podemos sentir posse e ciúmes e podemos ter a angústia de o vir a perder. Para quem, como nós, tem tantos medos e aflições e, insisto, tantas coisas por arrumar cá dentro, estes e outros riscos são um preço demasiado elevado para pagar pelo amor. Ou não. Tudo depende do preço que cada um está disposto a pagar por aquilo que é verdadeiramente essencial para si.
Acima de tudo, ninguém quer sofrer, mas na realidade também tem que haver lugar para a tristeza e, neste sentido, cabe perguntar se por haver sofrimento as coisas deixam de ser importantes.
Voltando à questão do amor poder ser incómodo, vale a pena pensar que, sob a aparência de bem, o tempo e a vida muitas vezes se vão encarregando de nos tirar a capacidade de amar e de sermos amados, na medida em que nos vão enchendo de coisas, interesses, medos, equívocos, situações menos claras, critérios, prioridades e preguiças que se vão instalando na nossa cabeça e no nosso coração e nos impedem de sentir com verdade. Este tempo vertiginoso e esta vida acelarada confundem-nos e alteram profundamente a nossa maneira de ser e estar. Muitas vezes não sabemos o que é importante e não sabemos onde pomos o coração. O pior é que frequentemente as nossas prioridades do coração não acompanham as da cabeça e é este descompasso de racionalmente sabermos o que vem em primeiro lugar, mas emocionalmente não sermos capazes de lhe dar a prioridade absoluta, que, tantas vezes, nos deita a perder.
É justamente nesta lógica, neste sentido exigente e perturbador, que o amor exerce alguma violência sobre nós. Ou pelo menos alguma pressão, na medida em que nos obriga a perceber que se não há espaço para amar é porque esse espaço está ocupado com outras coisas.
Por tudo isto, só é possível ir mais longe se arriscarmos quebrar paredes e derrubar muros que permitam criar o espaço que nos falta. Ou fazer como fazem os entendidos, que podam as videiras e cortam os ramos para que os frutos cresçam mais e a seiva circule melhor."

E vocês? também acreditam que o amor incomoda?

8 comentários:

Visible Silence disse...

Porquê,
Nunca deixarei de amar por ter medo de sofrer...
Tenho muitas dúvidas na minha vida... mas não relativamente a querer amar e quem amo... essas são certezas.
Tal como se refere no texto é preciso termos a certeza do que é essencial pois só desse modo conseguimos lutar contra "...interesses, medos, equívocos, situações menos claras, critérios, prioridades e preguiças que se vão instalando na nossa cabeça e no nosso coração e nos impedem de sentir com verdade".
Respondendo à tua pergunta: o amor em nada me incomoda, por ele estou disposta a pagar qualquer preço...
Só uma coisa me fará deixar de lutar pelo meu amor... ver nos seus olhos e ouvir da sua boca as palavras... "Eu já não te amo, não te quero, não te desejo".
Fica bem, beijinhos

Anónimo disse...

Este texto dá muito que pensar!!!!
Concordo que o amor pode incomodar aqueles que sentem que amam mas que não têm a coragem de assumir esse amor na sua plenitude talvez por terem medo de arriscar e de perder....
Quanto a mim, não me incluo nesse grupo de pessoas. Eu assumo, eu sei o que quero e o que não quero e quando quero mesmo vou até ao fim das minhas forças!!!
Beijokas,
Kalimera

Lis57 disse...

Texto muito bem escrito abordando um tema muito interessante.
Durante uma vida nunca me incomodou ser amada...mas agora incomoda-me.Revisto-me de uma capa e não deixo que me amem..precisamente porque não quero sofrer mais. É verdade ..o amor incomoda.

Nana disse...

Nunca ninguem disse que o amor era facil...

bjos

vero disse...

Ma quem disse k amar não era tb sofrer, não é? O amor não é fácil, mas conseguimos viver sem ele? Eu nunca....!!!!!
Beijinhos***

vero disse...

é verdade, nunca é tarde para amar...eu amo sempre, e estou a amar c todo o meu coração...a espera é k por vezes se torna tortuosa, mas a recompensa é deliciosa...
Vou adicionar-te aos meus limks, espero k n te importes!
Beijos***

Å®t Øf £övë disse...

Porquê?,
Claro que o amor incomoda...
E acho que me irei repetir, ao tentar justificar-me do porquê dele incomodar.
É que as pessoas esqueceram-se que o amor não é para se perceber.
As pessoas hoje em dia não gostam de se apaixonar de verdade, porque têm medo de viver um amor impossivel, não gostam de amar sem terem uma razão racional para isso estar a acontecer.
Esquecem-se que o amor é uma coisa e a vida é outra. Amor é amor. É essa a beleza, é esse o perigo. O amor não é para se compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode isso acontecer, como não. Tanto faz...
O amor não pode ser um meio, nem um fim, nem um princípio, nem um destino. O amor é uma condição.
O amor é uma coisa e a vida é outra... e a vida às vezes mata o amor.
Continua a amar sem medos, nem receios, mesmo que também aches que ele por vezes incomoda e muito, mas pensa que é melhor sentirmo-nos incomodados por amar, do que incomodarmo-nos por não ter quem amar... ou tempo para amar.
Bom feriado.
beijinhos.

Desconhecida disse...

E de que maneira...quando sentimos que nos amam e não correspondemos e, quando amamos e não somos correspondidos!